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Solos de florestas tropicais são possíveis emissores de monóxido de carbono

Publicado em 18/11/24 18:15 , Atualizado em 26/11/24 12:40 | Acessos: 268

A pesquisa foi realizada na Reserva Biológica do Cuieiras, na ZF2, do Inpa, e concentrou-se em duas áreas: o planalto e o baixio (Foto: Sipko Bulthuis/Projeto Atto)

Por Josiane Santos

Comunicação LBA/Inpa-MCTI

Fotos: Acervo LBA e Sipko Bulthuis/Projeto Atto 

Um recente estudo aponta que solos de florestas tropicais são prováveis fontes de emissão de monóxido de carbono (CO), um importante gás indireto do efeito estufa. A pesquisa tem como primeira autora Hella van Asperen, pós-doutoranda do projeto Observatório da Torre Alta na Amazônia (Atto,  Amazon Tall Tower Observatory, na sigla em inglês) e contou com a colaboração de cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA/Inpa-MCTI). O estudo, intitulado A emissão de CO de solos de florestas tropicais, foi publicado no periódico científico Biogeosciences.

Segundo Hella, a questão inicial da pesquisa foi: “Qual o processo na floresta tropical que é mais dominante: a emissão ou absorção de monóxido de carbono?” Ela explica que ambos os processos ocorrem simultaneamente, mas um é mais dominante que o outro. 

A cientista reforça que, embora estudos sobre esse gás sejam comuns em outros tipos de florestas, são raros em florestas tropicais porque geralmente o monóxido de carbono não é encontrado em grande quantidade na atmosfera e, portanto, é difícil de medir.

Monóxido de carbono (CO)

De acordo com os autores, o monóxido de carbono é importante porque ele desempenha papel significativo na química da atmosfera. O CO é considerado um gás de efeito estufa indireto, pois   aumenta a concentração atmosférica do metano (CH4), um gás de efeito estufa, e ozônio troposférico, um poluente atmosférico.

Atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e biomassa, contribuem fortemente para as emissões globais de CO. No entanto, também existem fontes naturais, como oxidação atmosférica, emissões oceânicas e emissões da biosfera.

Estudo

Solos secos e quentes provavelmente estão contribuindo para maiores taxas de emissões de monóxido de carbono em florestas tropicais. Além disso, corpos d'água, como igapós e áreas inundadas cercadas, também estão contribuindo para as emissões de monóxido de carbono das florestas tropicais.

As emissões de monóxido de carbono foram maiores na estação seca devido a altas temperaturas do solo. Experimentos de laboratório confirmaram que a degradação térmica, ou seja, a quebra de matéria orgânica pelo calor, é o principal impulsionador da produção do gás. Os autores destacam que riachos e áreas inundadas nos vales podem contribuir significativamente para as emissões de CO no ecossistema. 

Um fato interessante destacado pelo cientista é que todas as medições foram feitas à noite, acima e abaixo do dossel, ou em um local escuro (câmara de fluxo não transparente). Por esse motivo, a contribuição de emissores de CO induzidos por radiação, como a fotodegradação (a quebra direta da matéria orgânica pela luz solar) ou a oxidação de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs), poderia ser excluída. Portanto, a fonte esperada de emissões de CO do ecossistema é a degradação térmica, a quebra térmica direta da matéria orgânica.

“Eu percebi que em todas as noites, o CO estava aumentando no ar da floresta, também na área de baixio [áreas com solos frequentemente encharcados ou inundados], isso indica que são fontes. Especificamente na área de baixio, o CO aumenta, e é onde há de igarapés. É provável que não só o solo seja emissor, mas também a área inundada, emitindo monóxido de carbono. Isso é importante para os solos mais inundados”, explica Hella.  

Os resultados desta pesquisa, conforme apontado no artigo, são importantes para  compreensão do ciclo global do monóxido de carbono, para modelos climáticos e para o fornecer dados inéditos sobre as emissões de CO em florestas tropicais, além de subsidiar estratégias de mitigação das mudanças climáticas.  

“É importante continuar o estudo de CO para melhorar nossa compreensão da dinâmica do monóxido de carbono nas florestas tropicais, concentrando-se nas possíveis dependências complexas entre os fluxos de CO, temperatura (do solo), umidade do solo e outras variáveis ​​ambientais. Também é fundamental investigar o papel do tipo de solo, a importância dos cursos d’água e áreas inundadas para entender melhor as emissões de CO nos ecossistemas florestais tropicais”, conclui Hella. 

Os autores enfatizam a necessidade de mais pesquisas em diferentes locais e por períodos mais longos para compreender de forma mais robusta os fatores que influenciam os fluxos de CO do solo e do ecossistema de floresta tropical.

Sobre o projeto Atto

O projeto tem como principal objetivo compreender a interação da floresta amazônica com os ciclos da água, de gases de efeito estufa, nutrientes, comportamento da floresta em respostas à mudança do clima, além da formação de partículas atmosféricas e de nuvens. O Atto utiliza estrutura de torre de 325 metros de altura e mais duas torres auxiliares de 80 metros, instaladas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, a 150 quilômetros de Manaus, no município de São Sebastião do Uatumã, no Amazonas. 

O Atto é resultado de um convênio bilateral do Brasil, por meio do Inpa, com a Alemanha, representada pelo Instituto Max Planck de Biogeoquímica (MPI-BGC) e pelo Instituto Max Planck de Química (MPI-C). Também é um projeto parceiro do Programa LBA. 

Autores:

Hella van Asperen, pesquisadora do projeto Atto; Bruce Forsberg, gerente científico do LBA; Sávio José Filgueiras Ferreira, pesquisador do Inpa; Alessandro Carioca de Araújo, pesquisador da Embrapa e coordenador da Rede de Torres do Programa LBA; Leonardo Ramos de Oliveira, técnico do Laboratório de Instrumentação Micrometeorológica e Telemática (LIM) do LBA; Thiago de Lima Xavier e Jailson Ramos da Mata, técnicos de instrumentação micrometeorológica do LIM do LBA; Paulo Ricardo Teixeira, engenheiro de dados do LBA; Marta de Oliveira Sá, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Clima e Ambiente (PPG- Cliamb/ Inpa-UEA); Thorsten Warneke e Justus Notholt, ambos da University of Bremen (Alemanha); Thomas Röckmann e Carina van der Veen, da Universidade de Utrecht (Holanda); Sipko Bulthuis, do projeto Atto; Julie Andrews de França e Silva, bolsista de pós-doutorado do LBA;  Susan Trumbore, do Instituto Max Planck de Biogeoquímica (MPI-BGC). 

Artigo científico: 

van Asperen, H., Warneke, T., Carioca de Araújo, A., Forsberg, B., José Filgueiras Ferreira, S., Röckmann, T., van der Veen, C., Bulthuis, S., Ramos de Oliveira, L., de Lima Xavier, T., da Mata, J., de Oliveira Sá, M., Ricardo Teixeira, P., Andrews de França e Silva, J., Trumbore, S., and Notholt, J.: The emission of CO from tropical rainforest soils, Biogeosciences, 21, 3183–3199, https://doi.org/10.5194/bg-21-3183-2024, 2024.