O workshop reuniu pesquisadores e estudantes para apresentar resultados, compartilhar experiências e fortalecer pesquisas sobre clima e floresta amazônica (Foto Igor Souza/ Ascom Inpa)
Da Redação - Josiane Santos - LBA/ Inpa
Fotos: Igor Souza e Anne Karoline Menezes/ Ascom Inpa
O Projeto Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO, Amazon Tall Tower Observatory, sigla em inglês) celebrou dez anos de operação da maior torre de pesquisa de monitoramento climático do mundo durante workshop anual do projeto, realizado no Auditório da Ciência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI).
Fruto de cooperação científica entre Brasil e Alemanha, o ATTO é executado no Brasil pelo Inpa e, na Alemanha, pelos Institutos Max Planck de Biogeoquímica (MPI-BGC) e de Química (MPI-C), com o objetivo de compreender como as florestas da Amazônia central interagem com a atmosfera adjacente e a suas influências sobre o clima.
O coordenador-geral da Coordenação-Geral de Pesquisa, Capacitação e Extensão (CGPE), Jorge Porto, representou a direção do Inpa no workshop e destacou a importância do ATTO para a instituição e para a Amazônia. “O ATTO é de grande relevância para a instituição. Pela parceria binacional que envolve Brasil e Alemanha e pelo escopo científico voltado às mudanças climáticas, compreender o ciclo hidrológico e o ciclo do carbono, bem como os impactos das emissões de gases na Amazônia e em escala global”, ressalta Porto.
Histórico e infraestrutura da torre
Inaugurada em 2015, a torre ATTO tem 325 metros de altura e é uma das torres mais instrumentadas do mundo para estudos da química, física e biologia da atmosfera. Está localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã (RDS Uatumã), no município de São Sebastião do Uatumã, interior do Amazonas.
O sítio de pesquisa do projeto inclui mais duas torres de 80 metros, 18 contêineres equipados com instrumentos no estado da arte para medição de diversas propriedades científicas e laboratórios, acampamentos com dormitórios, banheiros e refeitório. A área do sítio está dentro de uma unidade de conservação com 20 comunidades e aproximadamente 250 famílias.
De acordo com o gerente operacional do projeto ATTO, o tecnologista do Inpa Bruno Takeshi, a implantação da torre na RDS-Uatumã se deu por estudos feitos com dados de sobrevoos e de sensoriamento remoto que registraram uma atmosfera pristina, semelhante à época pré-revolução industrial, no local onde a torre foi instalada. “Nós tínhamos muito interesse em entender como é o comportamento dinâmico da atmosfera e sua interação com a floresta. E aqui os ciclos biogeoquímicos conseguem ser observados de uma forma extremamente limpa, assim como, em algumas épocas do ano, com alguns efeitos de poluição antropogênica dos dias de hoje na composição atmosférica”, explica Takeshi.
O tecnologista relembra também as dificuldades para implantação de um empreendimento científico desta dimensão na floresta amazônica, como o transporte de equipamentos e da própria torre. “A torre em si é uma estrutura científica de ponta dentro da Amazônia, e com ela conseguimos não só desmistificar alguns fenômenos que ocorrem aqui localmente, mas também de forma regional e global, vide alguns resultados atuais da torre, onde conseguimos coletar material particulado oriundo do deserto do Saara aqui na Amazônia”, pontua Takeshi, durante o evento que aconteceu de terça a quinta-feira (16 a 18) desta semana.
A torre ATTO, juntamente com outras duas torres de 80 metros, integra a Rede de Torres de Observações Micrometeorológicas do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA/Inpa-MCTI).
Atualmente, a Rede de Torres do LBA conta com 18 estruturas de monitoramento distribuídas pelos estados do Amazonas, Pará, Mato Grosso e Rondônia, acompanhando há mais de 27 anos as interações entre a floresta amazônica e a atmosfera, e também o papel desses ecossistemas na regulação do clima. Entre as variáveis monitoradas estão as trocas de gás carbônico e metano, o vapor d’água, os aerossóis e o fluxo de energia.
“As trocas que são monitoradas com a Rede de Torres são muito importantes para entender o processo de regulação do clima ligado à floresta. E o que vai mudar se tira a floresta, se há uma mudança climática que altera essa interação”, explica o gerente científico do LBA, Bruce Forsberg, que apresentou palestra durante o workshop.
Resultados científicos
O projeto ATTO publicou mais de 140 artigos científicos sobre a interação entre a floresta amazônica e a atmosfera. O coordenador do projeto pelo Inpa, o pesquisador Carlos Alberto Quesada, destaca alguns estudos como os processos de fixação e balanço de carbono, estudos sobre liberação da umidade pelas plantas, formação de nuvens e chuva, dinâmica dos gases de efeito estufa na atmosfera, como gás carbônico e metano.
“O ATTO ajuda muito a compreender esses processos que a gente tenta entender, o transporte entre o que está acontecendo aqui no chão na Amazônia e o que está sendo transportado para a alta atmosfera quando atinge uma escala global. Toda essa parte meteorológica também é um componente muito importante nesse projeto”, explica Quesada
Por meio do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o projeto aprovou o INCT ATTO-Equilibrium - conectando sistemas simbióticos na Amazônia que tem como objetivo ampliar a compreensão sobre como a floresta amazônica interage com a atmosfera, contribuindo para a redução de incertezas em previsões climáticas.
“Nós, do lado brasileiro, acabamos de aprovar um INCT, um projeto de muito prestígio. Ele também traz bastante recurso para que a nossa comunidade brasileira possa trabalhar ombro a ombro com a comunidade alemã, para produzirmos juntos, como já fazemos”, reforça o coordenador.
A coordenadora do ATTO pela Alemanha, Susan Trumbore, do MPI-BGC, destaca a colaboração científica entre pesquisadores alemães e brasileiros em diferentes áreas. “Temos diferentes equipes. Por exemplo, a área de micrometeorologia é liderada pelo Brasil, outras áreas são lideradas pela Alemanha, como os estudos sobre gases de efeito estufa. Então, podemos juntar essas áreas onde temos um grupo mais forte em cada lado e fazermos pesquisa de ponta dentro do ATTO”, destaca.
Interação com as comunidades
Um dos próximos passos destacados pelos coordenadores é sintetizar resultados das pesquisas de forma mais acessível para socializar o conhecimento científico com a sociedade. Iniciativa desta natureza no projeto começou em 2018, a partir da demanda das comunidades locais, dando origem ao projeto ATTO Escola.
O ATTO Escola leva conteúdos sobre ciência e clima de forma didática para alunos e professores. Entre as ações estão palestras e aulas práticas, coleta de pilhas e baterias para descarte correto, instalação de réguas linimétricas no rio Uatumã para registro das variações, treinamentos anuais para professores e gestores das escolas. O projeto alcançou 150 alunos, capacitou 25 professores e envolveu cinco escolas parceiras. Materiais didáticos sobre ciência e clima estão disponíveis para download na plataforma de aprendizagem.
Outras ações incluíram a instalação de duas trilhas interpretativas educativas instaladas nas comunidades Maracarana e Bela Vista, em parceria com o grupo de pesquisa Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Grupo Maua), do Inpa.
Também são parceiros a Secretaria Municipal de Educação de Presidente Figueiredo, a Rede Hidrometeorológica Nacional e o grupo CloudRoots da Universidade de Wageningen da Holanda.